A condição de obesidade severa está associada a várias doenças graves.

 

Problemas com a balança e com o espelho? Não é só isso. A realidade é que a nação anda cada vez mais pesada. Em torno de 50% da população brasileira está acima do peso e 14% já são declarados obesos, segundo uma pesquisa de obesidade realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), em 2007.

A obesidade não afeta somente o convívio social e a auto-estima da pessoa como também é a responsável por acarretar várias doenças graves, entre elas a doença arterial coronária, derrame, infarto, diabetes tipo 2 de início em idade adulta, hipertensão, dislipidemia, câncer, dificuldades respiratórias e apnéia do sono,  risco aumentado de embolia pulmonar por alterações de coagulação sanguínea, entre outras.

O grau de obesidade é calculado pelo Índice de Massa Corpórea (IMC), isto é, o peso (em kg) dividido pela altura (em m) ao quadrado. Ao calcular o IMC, se o resultado for entre 18,5 – 24,9 kg/m2 indica que você está com peso normal, de 25 – 29,9 kg/m2 significa que você está com sobrepeso, e a partir de 30 kg/m2 corresponde, sucessivamente, às categorias de obesidade (leve, moderada e mórbida). Segundo o médico especialista em cirurgia do aparelho digestivo, Jean Ricardo Nicareta, a obesidade mórbida é considerada quando o paciente tem o IMC igual ou superior a 35kg/m2 com co-morbidades e acima de 40kg/m2 sem co-morbidades.

Para diminuir o risco de morte precoce de obesos mórbidos que, conforme a SBCBM, é 12 vezes maior em relação aos não obesos, na faixa etária dos 25 aos 34 anos, a cirurgia bariátrica é uma alternativa. Contudo, o procedimento só é indicado “após o paciente ter passado por vários tipos de dieta e outros meios que tinham como objetivo a perda de peso sem obter resultado”, afirma Nicareta. Além disso, o cirurgião diz que, para realizar a cirurgia bariátrica, é imprescindível fazer avaliação prévia com uma equipe multidisciplinar que inclui psicólogo ou psiquiatra, nutricionista, endocrinologista, pneumologista, cardiologista e ginecologista, e somente com a aprovação de todos os profissionais será realizada a cirurgia. “Esta avaliação é necessária para examinar e verificar se o paciente tem condições de operar de acordo com as constatações médicas e com o fator psicológico”, ressalta o médico.

Estar preparado psicologicamente é fundamental para realizar a cirurgia e encarar as mudanças de hábitos propostos. “O estilo de vida modifica totalmente em relação ao que o paciente tinha anteriormente, por isso ele precisa estar bem preparado e condicionado psicologicamente”, afirma Nicareta. Quem acredita que a cirurgia bariátrica é para emagrecer, já está equivocado psicologicamente. “A cirurgia bariátrica é indicada para obesidade mórbida e doenças”, completa.

A cirurgia bariátrica pode ser realizada através da técnica convencional (aberta) ou por videolaparoscopia. O que muda entre as técnicas é acesso utilizado. Na convencional são feitas grandes incisões e na laparoscópica o procedimento é efetuado através de três a seis incisões, de0,5 a1cm cada.  “A cirurgia por laparoscopia propõe ao paciente menos complicações, recuperação mais rápida no pós-operatório e com menos dor, tempo de internação menor, custo mais baixo, além de contribuir para a estética do abdômen”, revela o médico. Conforme Nicareta, com esta técnica, dependendo do caso, o paciente pode ser liberado mais rapidamente do hospital, retornando ao trabalho ou atividade física em poucos dias.

Com a cirurgia muitas doenças são curáveis, como a hipertensão, apnéia do sono, colesterol, e outras apresentam uma melhora significativa. Porém, ao realizar a cirurgia é preciso ter ciência dos novos hábitos que farão parte da rotina.  “O paciente precisa estar consciente e aceitar uma mudança total de vida, com cuidados na alimentação e aderir à prática de atividades físicas”, afirma o cirurgião.

O que muda na alimentação

 

Após realizar a cirurgia bariátrica a dieta vale ouro. “Nos primeiros 15 dias após a cirurgia a alimentação é só liquida. Depois deste período o paciente vai voltando aos poucos para uma dieta alimentar equilibrada e balanceada. Em média a adaptação da nova dieta vai de seis meses a um ano”, explica o médico.

O cuidado com a alimentação e um estilo de vida menos sedentário faz toda a diferença para o tratamento. “O paciente pode comer de tudo, mas em pequenas quantidades e de acordo com a capacidade do estômago, caso contrário o paciente volta a engordar e pode engordar tudo novamente”, avisa Nicareta. O erro comum, segundo ele, é a ingestão, fora dos limites, de alimentos hipercalóricos, como sorvetes, chocolates, leite condensado, que são um dos principais vilões para se perder o controle e engordar.

Além disso, o paciente precisa comer devagar e mastigar bem os alimentos. “A refeição tem que ser feita sem pressa, comer pedaços pequenos de carne, por exemplo, e em pequenas porções, pois se comer rápido vai vomitar o tempo todo”, informa o cirurgião.

Outra dica é fracionar as refeições, comendo a cada 3 horas. “Ao comer seis vezes ao dia, a pessoa comerá menos em cada refeição e irá acelerar o processo metabólico”, declara Nicareta. Este cuidado especial com a alimentação, conforme o médico, é necessário para o pré-operatório e para a vida toda, se não quiser entrar novamente na lista de obesos. Agora, você pode estar pensando: ah, mas se eu engordar excessivamente faço uma nova cirurgia bariátrica! O médico já alerta que a segunda cirurgia não tem o mesmo efeito que a primeira, pois reoperações tem resultados muito variados e irregulares e dificilmente fará o indivíduo emagrecer adequadamente, então fique atento com os hábitos alimentares e comece agora mesmo a fazer exercícios. Seguindo as orientações médicas, o paciente não terá dificuldades para se alimentar e terá uma vida sem limitações e de muita qualidade.

 A Cirurgia Bariátrica por laparoscopia:

 

A cirurgia laparoscópica surgiu no Brasil em meados dos anos 90 e a partir de então, cada vez mais, tem indicações com excelentes resultados, como em procedimentos de retirada da vesícula, correção de hérnia do hiato e, recentemente, as cirurgias bariátricas. “È consenso mundial que a melhor forma de realizar a cirurgia bariátrica é através da laparoscopia. O resultado é igual o da cirurgia convencional, com a ausência de grandes cortes no abdômen, menor índice de complicações e com recuperação muito mais rápida”, afirma o cirurgião do aparelho digestivo.

 

Futuras Indicações:

 

Está sendo estudado e em fase de trabalhos experimentais, pela SBCBM, o tratamento do diabetes tipo 2 através de alternativas cirúrgicas para pacientes com IMCs entre 30 – 35 kg/m2. Embora estes novos procedimentos demonstrem resultados promissores para o tratamento do diabetes tipo 2, eles ainda não estão autorizados  para serem colocadosem prática. Aexplicação é que “as pesquisas que estão sendo feitas mostram resultados a curto prazo, inexistindo estudos de casos a longo prazo para analisar os efeitos da cirurgia”, explica Nicareta. Segundo ele, para esta técnica entrar em vigor é preciso acompanhar os pacientes por um bom tempo e ter uma grande amostra de casos. Quais os pacientes que vão se beneficiar com a cirurgia para o tratamento do diabetes? Está ainda é uma pergunta a ser respondida.

Outra futura indicação é a redução do peso necessário para se operar. Tal princípio baseia-se na pergunta: Por que esperar o paciente adoecer para operar? Estudos experimentais também demonstram que indivíduos com IMC superior a 30 associado a comorbidades graves ou IMC maior que 35 sem comorbidades, podem se beneficiar com a cirurgia bariátrica. Isto se baseia no princípio de que a cirurgia seria mais efetiva antes do paciente adquirir graves comorbidades e obesidade mórbida. Operar o indivíduo “mais magro” reduziria os riscos da cirurgia e proporcionaria maior eficácia. No entanto, estas indicações ainda são experimentais e não aprovadas atualmente.

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