profissional de saúde demonstra apoio a mulher - O que é a luta antimanicomial e porque ela é importante

Debates e celebrações sobre a luta antimanicomial buscam fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial e promover o rompimento com a lógica de exclusão que permeia a sociedade

Um termo vem sendo cada vez mais lembrado nas discussões sobre saúde mental. Estamos falando sobre a luta antimanicomial. Apesar de parecer claro pelo, esse conceito não é apenas voltado ao não funcionamento de manicômios. Mas sim, busca enfatizar uma série de mudanças no trato da saúde mental.

“A luta antimanicomial é um movimento que já vem ocorrendo há alguns anos. Ela começa a partir da reforma psiquiátrica italiana, cujo maior nome é Franco Basaglia”, explica o psicólogo e professor do Centro Universitário Guairacá, Felipe Bini (CRP 08/23242).

Em solo brasileiro, esse processo se traduz pela mobilização dos trabalhadores e usuários da Saúde Mental.

“Eventualmente se institucionaliza e se transforma na reforma psiquiátrica. Que acontece por aqui e reorganiza a política de saúde mental. Sobretudo a partir da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) e do estabelecimento de atendimentos alternativos, como dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)”, completa.

Felipe lembra que a luta antimanicomialuta antimanicomial se refere a mais do que avanços nas políticas públicas acerca da área. Ela também combate à exclusão e a lógica que perpassa os manicômios, os hospícios e as internações compulsórias.

“A gente tem o caso mais famoso, que é da Colônia de Barbacena. Lá mais de 60 mil pessoas morreram. Eram indivíduos que foram internados nesta instituição, sendo mal diagnosticados e tratados como menos que humanos”, exemplifica.  

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Por que lembrar sobre a luta antimanicomial é importante?

O caso do Hospital Colônia de Barbacena é o mais impactante de como a lógica manicomial é degradante e perigosa. Apesar da história já fazer parte do passado, os resquícios ainda estão presentes.

“Ainda percebemos esse movimento de querer institucionalizar as pessoas, segregá-las e excluí-las. Ainda existem alguns desses hospitais psiquiátricos funcionando, ainda existem interesses”, ressalta o psicólogo.

Atualmente ocorrem, inclusive, investimentos em um modelo contrário à luta antimanicomial. Recursos públicos são empregados, por exemplo, em algumas comunidades terapêuticas que reproduzem processos que já mostraram que não eram efetivos nos anos 1970.

“A luta antimanicomial não se refere apenas a reviver essa memória. Mas também em defender a RAPS e reforçar que a sociedade precisa ter uma outra forma de lidar com as pessoas que têm alguma condição de saúde mental e os dependentes químicos”, reforça Felipe.

A verdade é que esse tema pode refletir em toda a sociedade, e não necessariamente em pessoas que sofrem de algum problema de saúde mental e seus familiares.

“Todas as pessoas estão suscetíveis a problemas e se virar um pouquinho a chave, qualquer um pode acabar entrando nessa lógica, ser internado também e acabar segregado, apenas por ter uma um transtorno, uma condição ou, enfim, ter uma outra forma de olhar para realidade”, pondera.

No fim, a verdadeira importância da luta antimanicomial pode ser traduzida no pensamento de Franco Basaglia, o nome responsável pelo pontapé inicial dessa revolução. O ideal é um rompimento com a lógica de exclusão que permeia a sociedade.

O Holocausto Brasileiro

Fundado em 1908, na cidade mineira de Barbacena, o Hospital Colônia funcionou até os anos 1980. Muitas histórias de abusos, maus-tratos e tratamento desumano fizeram com que o psiquiatra italiano Franco Basaglia taxasse a instituição como um campo de concentração nazista. Daí, uma das origens do termo Holocausto brasileiro. 

O que acontecia por lá:

  • Pessoas ficavam abandonadas, sem nenhuma condição humana e não havia tentativas de ressocializá-las; 
  • Não havia lugares para todos dormirem e pouca alimentação. Muitos chegaram a morrer por conta disso;
  • Muitos internos não tinham nenhum problema: moradores de rua e desafetos políticos foram mandados para lá. 
  • Pessoas homossexuais também foram presas, por serem consideradas perversas;
  • Os corpos dos pacientes que morriam eram vendidos para faculdades de medicina por funcionários da instituição, em um esquema de tráfico de corpos.

Saiba mais – Algumas obras que falam sobre o tema

Livro: O Holocausto Brasileiro – Lançado em 2013 pela jornalista Daniela Arbex;

Documentário: O Holocausto Brasileiro – Dirigido por Daniela Arbex e Armando Mendz, foi lançado em 2016;

Museu da Loucura: Localizado onde ficava o Hospital Colônia, foi fundado em 1996 para lembrar as atrocidades sofridas pelos pacientes.

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