Visão errônea sobre a esquizofrenia impede que pacientes tenham acesso a condições de vida e saúde adequadas. Especialista comenta sobre como mudar a situação.

É comum que você leia nas páginas da Mais Saúde informações a respeito de diagnóstico precoce. Seja para o que for, descobrir e começar a tratar antes apresenta ganhos para a qualidade de vida dos pacientes. Bem como, ocorre uma significativa melhora no prognóstico.

Entretanto, com algumas doenças, em especial as ligadas a aspectos psicossociais, o preconceito é um fator de atraso. Nessas casos, ocorre uma demora na aceitação da condição e o início do acompanhamento. Uma, em especial, é envolta por esse problema. É a esquizofrenia.

representação de jovem com esquizofrenia
Perda de contato com a realidade e alucinações estão entre os principais sintomas da esquizofrenia.

Segundo o manual MSD, esse é um transtorno mental caracterizado pela perda de contato com a realidade, a psicose. Ainda de acordo com a publicação, outros sintomas incluem:

  • alucinações;
  • delírios;
  • pensamento e comportamento anômalo;
  • redução das demonstrações de emoções;
  • diminuição da motivação.

 Esquizofreniacausas e gatilhos

A demora em iniciar o tratamento também gera problemas. 20% dos pacientes com esquizofrenia possuem ideação suicida. Indo além, entre 5 a 6% destes chegam a atentar contra a própria vida.

Enxergando a delicadeza dessa situação, conversamos com o Eduardo Bernardes Nogueira (CRP 08/12071). Ele é mestre em psicologia, professor de ensino superior, atua na área clínica. Além disso, já foi coordenador dos Centros de Atenção Psicossocial, o CAPS II e CAPS ad.

Mais Saúde: Você acredita que existe preconceito envolvendo problemas de saúde mental, em especial a esquizofrenia?

Eduardo: Sim, existe um preconceito com problemas de saúde mental. Mas o preconceito dirigido às pessoas com algum sofrimento psíquico mais acentuado varia muito de acordo com o transtorno diagnosticado. Por exemplo, uma pessoa com depressão poderá ser vista como vagabunda ou fraca, mesmo que isso tenha mudado de um tempo para cá. No caso da esquizofrenia existe muito também, mas normalmente atrelado à ideia de periculosidade ou incapacidade, o que é um equívoco sustentado durante séculos. Não sei se é possível dizer se tem mais ou menos preconceito com a esquizofrenia do que com os outros, mas me parece que a incidência do tipo específico de preconceito com a esquizofrenia pode ser mais prejudicial.

Mais Saúde: Na sua opinião, o preconceito é uma barreira para que as pessoas tenham acesso ao diagnóstico e tratamento o quanto antes?

Eduardo: Sim. Pode ser uma barreira para que as pessoas tenham acesso a um bom diagnóstico. Mas, muitas vezes, o mais preocupante não são necessariamente as barreiras encontradas antes do diagnóstico, mas sim depois dele. Uma pessoa diagnosticada com um transtorno mental pode começar a ser tratada como perigosa, ou frágil, ou incapaz, ou inadequada e isso pode trazer consequências muito ruins para ela e as pessoas ao seu redor.

 

Lidar com o preconceito em saúde mental é buscar uma mudança social e cultural que enfrente a intolerância e a dificuldade de lidar com o que é diferente

 

Mais Saúde: Qual seria a origem do problema?

Eduardo: Acredito que uma das razões para o preconceito psíquico é que o sofrimento do outro toca de alguma forma no nosso próprio sofrimento. Utilizando do senso comum, a loucura do outro nos remete à nossa própria loucura. E ninguém, de forma geral, quer lidar com isso.

Saiba mais sobre essa doença

Mais Saúde: Como esse preconceito pode ser enfrentado?

Eduardo: Lidar com o preconceito em saúde mental é mais do que fazer campanhas de publicidade dizendo que a pessoa com transtorno mental não está fingindo, ou não é fraca. É buscar uma mudança social e cultural que enfrente a intolerância e a dificuldade de lidar com o que é diferente. Como esse preconceito pode ser enfrentado? Não há fórmula mágica e nem a curto prazo. Enfrentamos o preconceito investindo em políticas públicas de saúde, de geração de renda, de educação para que aos poucos, ou seja, a longo prazo se possa atender da melhor forma as pessoas e fazer um trabalho de base para que elas possam continuar a viver em sociedade apesar de seu sofrimento.

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