Cuidados com os pets no verão

Assim como em humanos, o calor exige um pouco mais do organismo dos animais de estimação. O médico veterinário Helton Felipe Stremel (CRMV-PR 13.495) esclarece dúvidas sobre os cuidados com os pets durante o verão

As temperaturas mais elevadas podem ocasionar algum problema para os pets durante o verão?

Quando falamos de cães e gatos precisamos ter maior atenção na época mais quente do ano, principalmente em relação à própria temperatura corporal. Diferente de nós, nossos pets não tem a sudorese como um mecanismo termorregulador eficiente, pois as glândulas sudoríparas deles ficam nos coxins (almofadinhas das patas), dessa forma os mecanismos termorreguladores principais são a condução (quando eles deitam e se esparramam no piso frio) e a convecção (que ocorre na maioria das vezes quando eles ficam ofegantes, para inalar um ar mais frio e liberar o ar que foi aquecido no seu corpo).

Os cães e gatos não têm um resfriamento próprio tão eficiente então precisamos promover meios para que eles fiquem confortáveis, é importante lembrar que além da própria temperatura corporal elevada e grande quantidade de luminosidade nos ambientes externos pode provocar problemas. Nos meses onde temos a temperatura elevada e alta umidade do ar as dermatites são uma das principais causas de busca por serviços veterinários, elas podem ser desde casos leves até situações que se tornam graves.

Tantos os meses quentes quantos os frios requerem abordagens diferentes para promover o bem-estar da família multispécie (núcleos familiares compostos por animais humanos e não-humanos).

Que cuidados devem ser tomados com os pets durante o verão?

Água sempre à vontade, ela deve ser limpa e fornecida em um pote limpo. O Mesmo serve para as fontes de água para felinos, é indispensável sempre manter a higienização das mesmas. É indicado que estejam disponíveis vários potes pela área de acesso do pet, mas lembrar de deixá-los afastados das áreas utilizadas como “banheiro” por eles.

Além de fornecer água para eles beberem, podemos fornecer água para eles “comerem”, ou seja, fornecer alimentos com grande quantidade de água em sua composição, um bom exemplo são as rações úmidas, conhecidas como patês e sachês. As frutas e legumes podem fazer parte da alimentação, hoje em dia é muito fácil encontrar receitas nas redes sociais de refeições contendo frutas e legumes em forma de caldo, picolé entre outros, há diversos profissionais qualificados ensinando como fazer. Lembrando que o uso de frutas e legumes não deve substituir as refeições, muitas delas podem ser tóxicas e pouco aproveitadas pelo metabolismo dos nossos pets, por isso é sempre indicado buscar orientação veterinária especializada para incluir de forma segura alimentos na dieta dos animais e se houver interesse até de realizar uma dieta a base de alimentos naturais.

Como já falamos sobre a termorregulação nos nossos pets, uma das formas é por condução, há uma grande questão em relação às tosas. Ouço muito os tutores pedirem para realizar a tosa baixa (raspada) para evitar que o cão passe calor, mas essa é uma concepção que deve ser repensada, pois na verdade os pelos protegem a pele deles dos raios solares e queimadura, basta lembrar as roupas que são utilizadas por pessoas que vão ao deserto como vemos nos filmes. O que é efetivo de se fazer é a tosa higiênica (pelo entre os coxins, barriga e região perineal) e manter a escovação em dia nos animais de pelo longo, pois o pelo embolado diminui a oxigenação da pele, aumenta a umidade e propicia a proliferação de fungos e bactérias.

Para quem opta por dar banho em casa o indicado é sempre escovar bem os pets antes do banho para remover os pelos que já se desprenderam da pele mas permaneceram presos aos outros pelos, isso facilita muito o processo de secagem, utilizar produtos adequados a pets e tentar fazer com que seja uma experiência agradável a ambos, é uma boa hora para se molhar juntos (uma das coisas mais prazerosas no calor), deitar no chão com o cão, se divertir e pensar na bagunça depois. A parte que requer grande atenção é a secagem do pelo, para isso o ideal é programar bem os horários do banho principalmente dos cães de grande porte que levam mais tempo para ficarem devidamente secos. 

O banho estético nos felinos não é indicado, nossos gatinhos são auto-limpantes, o que podemos fazer para manter uma boa qualidade na pele deles e ajudar com o calor é a escovação. Gatos que param de se limpar, ou como dizemos, diminuem o comportamento de “grooming” estão nos avisando que algo está errado e a diminuição no comportamento é um forte indicativo que é necessário uma visita ao veterinário.

Cães e gatos que têm pelagem clara ou áreas despigmentadas como pálpebras, ponta de orelhas e focinho tem muitos problemas com a incidência diretas de raios UV, esses pets durante o verão devem ficar abrigados desse tipo de radiação e muitas vezes são indicados o uso de protetores solares próprios. Dentro da medicina veterinária isso é um problema de grande notabilidade, pois o fato pode levar ao aparecimento de câncer de pele, se você tem um animal com essas características sempre procure orientação veterinária para prevenir tal problema.

E de forma geral temos quer ter uma concepção, se o ambiente está desagradável pra mim, provavelmente meu pet pode estar passando por essa situação também. Se temos a necessidade de procurar sombra, água, tirar um cochilo em um local arejado, eles também ficarão muito mais confortáveis com os mesmos.

Você acredita que é preciso adequar o horário de passeios?

As férias de início de ano e novas metas pessoais muitas das vezes são uma excelente oportunidade à prática de atividades físicas. Elas são indicadas para pessoas e animais pelos inúmeros benefícios físicos, mentais e sociais (nossos cães também fazem amigos e adoram conhecer pets novos).

Os passeios além dos benefícios individuais criam uma forte conexão tutor-pet, para que essa atividade seja prazerosa e vantajosa para ambos temos que tomar alguns cuidados. Um deles é evitar os passeios em horários de alta incidência de raios UV, ou seja, entre as 10 e 16 horas, então início da manhã e final da tarde são os horários indicados e sempre é válido lembrar de levar um saquinho para coletar as fezes e uma garrafinha de água pra ninguém ficar com sede.

Existem leis que pedem que algumas raças de cães utilizem focinheiras para passeios, essa focinheira deve ser adequada a fim de que permita que o cão fique ofegante, pois como já falamos a respiração é uma das formas de baixar a temperatura corporal.

É comum que aproveitemos o passeio para dar resolver outras tarefas do dia-a-dia, como ir em mercado, padaria, banco, posto de gasolina. Não é nada indicado que deixemos o animal no carro esperando, nem que seja um pouco, o calor associado ao “ficar sozinho” pode ser prejudicial diretamente a saúde dos pets durante o verão ou o restando do ano. Inclusive, o passeio se tornar uma experiência negativa. É válido lembrar que muitos estabelecimentos são “pet-friendly” então é legal colocá-los na rota do passeio. 

O passeio com felinos não é tão comum quanto com cães, em relação ao calor eles sofrem dos mesmos males citados acima, se você tem um gato que gosta de passear o ideal é que seja de forma supervisionada com uma guia apropriada. Na medicina veterinária de animais de companhia um dos principais problemas que enfrentamos hoje em dia são os gatos que saem dar voltinhas, os semi-domiciliados, pois estão expostos a graves doenças, possibilidade de intoxicações, acidentes, crias indesejadas, brigas e muitas outros episódios, mas essa é uma conversa para outra hora.

Com temperaturas mais altas, é comum a maior incidência de insetos e parasitas. O que pode ser feito pelos tutores para evitar problemas?

Nos meses mais quentes a incidência de infestação por pulgas, carrapatos e sarna aumentam consideravelmente e se torna um desafio o controle deles, principalmente por algumas espécies de parasitas serem zoonoses.

O principal sinal observado em pets durante o verão é a coceira em excesso, porém a coceira pode levar a lesões de pele que podem infeccionar e causar o aparecimento de quadros mais delicados como as piodermites superficiais e profundas, causando grande desconforto para o paciente, esse desconforto não se restringe ao estado físico, os tutores costumam diminuir o contato com os pets que possuem problema de pele pelo medo de contrair a doença, pelo odor desagradável, para evitar de sujar as roupas, sofás e camas, esse afastamento em termos emocionais é prejudicial ao pet e o estresse gerado é um agravante ao quadro geral uma vez que diminui a imunidade. Então os problemas de pele não devem ser negligenciados de forma alguma.

Os ectoparasitas vistos nos pets durante o verão representam cerca de 5% do total que está no ambiente, muitas vezes não são visíveis, desse modo, quando falamos em controle parasitário temos que associar o controle no próprio pet com um controle ambiental. Existem vários produtos utilizados para o pet (comprimidos, coleiras, sprays, spot-on) e para o ambiente, novamente, o ideal é sempre consultar o veterinário para escolher o mais adequado ao ambiente familiar e também evitar uso de substâncias que possam ser prejudiciais para cão ou gato, além de que algumas raças específicas sofrem de intoxicação com alguns compostos farmacológicos.

Para o controle no ambiente domiciliar utilizamos o calor e incidência de raios solares a nosso favor, pegando essa época para fazer uma boa faxina em caminhas, roupinhas, guias, coleiras e principalmente casinhas que são os lugares mais abafados e que recebem pouca luminosidade em seu interior. Também vale orientar os tutores que moram em casas com quintais para fazer os cuidados de corte de grama, remoção de plantas indesejadas, retiradas de lixo dos locais, e para o que vão viajar é muito legal sugerir que o período fora de casa é ideal para contratar um serviço de dedetização ambiental e fazer o uso de substância de controle de parasitas.

Uma dica valiosa para quem viajar com pets durante o verão é sempre entrar em contato com um veterinário do local para adquirir informações sobre as doenças prevalentes na região e já ir viajar com a vacinação obrigatória e não obrigatória atualizadas e antiparasitários adequados ao local de visita.

Qual você diria ser o maior risco para os pets durante o verão?

Gostaria de atentar a um problema que pode se tornar uma emergência devido a erros de conduta. Chamamos o quadro de intermação, seria um episódio de hipertermia com um processo inflamatório sistêmico, generalizado é considerado uma emergência. Esse quadro de intermação ocorre quando os animais aquecem acima do normal e os mecanismo de regulação de temperatura não são eficientes para o resfriamento do organismo, causando disfunções orgânicas importantes que se não manejadas rapidamente podem culminar no óbito do paciente.

O quadro ocorre em animais de forma mais vista em pets braquicefálicos (focinho curto), mas vários portes, idades e raças são susceptíveis a isso. Um dos principais erros é sentir que o animal está quente demais e tentar resfriar de forma inadequada, já acompanhei casos que não tiveram final feliz, de tutores que na melhor das intenções tentaram resfriar o paciente com água gelada.

Se você notar que o animal está quente demais e sofrendo com essa situação jamais coloque em água gelada, a água gelada resfria a pele e causa uma vasoconstrição fazendo com que o animal “cozinhe por dentro” o que pode ser feito para ajudar até conseguir o atendimento veterinário é jogar álcool 70% nos coxins barriga e virilha, pois o álcool evapora e ajuda a resfriar o paciente, de forma alguma essa manobra substitui o atendimento veterinário, pois o animal muitas vezes precisa de fluidoterapia, oxigênio e medicamentos para reverter a situação.

Qual seria sua recomendação final para a saúde dos pets durante o verão?

Para concluir nossa conversa, temos que ter a ciência que o médico veterinário é um profissional que trabalha pela saúde do coletivo e é um ser atuante diretamente na família multiespécie, nosso trabalha vai muito além de identificar e tratar doenças apenas nos animais.

O recomendado é que os tutores levem seus pets, saudáveis, pelo menos 1 vez ao ano para uma consulta, nesta ida já atualizamos a vacina, antiparasitários necessários fornecemos as recomendações nutricionais e podemos identificar de forma precoce possíveis doenças, mas além de tudo isso, nos dias de hoje, trabalhamos para eu os tutores sejam atuantes e nos cuidados e decisões acerca do seu amigo/filho/pet e queremos difundir conhecimento sobre essa relação humano-animal, então aproveite esse momento de consulta para mostrar fotos, mostrar algum truque que o pet aprendeu, contar o que ele apronta, o que você dá escondido pra ele comer.

Nós somos profissionais, que temos o dever de cada dia mais aprender com os tutores o que os move, o que nos move a essa paixão com nossos pets, aliás, essa é uma das partes mais bonitas da profissão.

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