Aproveitamento integral dos alimentos faz bem para a saúde e evita que comida boa seja jogada fora

Vai chegando a hora do almoço. Sob a tábua de cortar repousa um maço de folhas de couve, cortadas de maneira fina, esperando serem abraçadas pelo calor do fogão quando forem ser refogadas. Ao lado, como de costume, os talos da verdura estão prontos para irem ao lixo. Mas não dessa vez e não na cozinha da dona Cleide Albertini Silva, de 57 anos. Na preparação dela, essa parte que normalmente seria descartada faz parte da receita do arroz. “Eu aprendi desde cedo, com minha mãe, a colocar o talinho da couve pra temperar, muita gente pode achar que fica ruim, mas na verdade é uma delícia”, afirma.

O problema do desperdício 

A opção de Cleide não é usual em nosso país. Em um levantamento feito em 2010, pela ONG Akatu, que é focada no consumo consciente, mais de 60% das pessoas ouvidas afirmaram não aproveitar integralmente o que entrava na dispensa. Esse resultado, apesar de ser obtido há mais de 10 anos, é um problema que continua recente. 

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 15% de tudo que é produzido na América Latina e Caribe é desperdiçado entre a colheita e o prato. O representante regional do órgão, Raúl Osvaldo Benítez, explica em nota que o desperdício é um dos grandes desafios pendentes para alcançar a plenitude da segurança alimentar. “O Brasil desperdiça 22 bilhões de calorias, o que seria suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais de 11 milhões de pessoas e permitiria reduzir a fome em níveis inferiores de 5%”, cita.

Olhando para o que não é aproveitado

Uma forma de reduzir esse problema é usar partes que geralmente iriam para o lixo na hora de preparar as refeições, assim como a dona Cleide faz. Outra vantagem para a utilização integral dos alimentos está no ganho nutricional, é o que indica a nutricionista Marina Scorsin (CRN 8-7954).

 Ela diz que aproveitar os ingredientes, utilizando elementos como sementes, talos e cascas nos vegetais, e ossos, cartilagens, além da carne, nos de origem animal, pode acrescentar duas a seis vezes mais nutrientes no prato. “Por exemplo, o tutano do boi e o mocotó têm alta concentração de colágeno, proteínas, gorduras boas, minerais e vitaminas, principalmente A, D, E, K”.

Cascas e bagaços são ricos em fibra

Outro ganho que a profissional relata vem do uso das cascas e bagaço das frutas e legumes, que tem alta presença de fibras que ajudam no funcionamento intestinal e reduzem a resposta glicêmica após as refeições. Tudo nos vegetais pode ser aproveitado “A rama da cenoura tem vitamina A e C e as sementes de abóbora, melão e melancia são fontes de potássio”, exemplifica.

O que pode ser feito?

Marina explica que os alimentos podem ser aproveitados integralmente de diversas formas: bolos com talos, cascas e folhas; farofa com farinha de pão torrado e talos de verduras; patês; sopas; suflês; bolo com a casca da banana ou laranja; doces com casca de abóbora ou maracujá ou com a entrecasca da melancia; pudim de pão amanhecido; biscoitos com frutas e sementes; snacks de semente de abóbora; chips de casca de batata e cenoura; chás, vitaminas e sucos com as cascas de frutas.

A Nutricionista Marina Scorsin dá dicas para aproveitar mais

  • Planeje suas refeições para utilizar integralmente os alimentos.
  • Quando for à feira, adquira os alimentos com os talos, ramas e folhas.
  • Prefira as frutas e verduras da época, aproveite a sazonalidade.
  • Higienize sempre os alimentos e conserve-os em local adequado.
  • Aprimore suas habilidades culinárias, busque por receitas que
    aproveitem o alimento na sua totalidade.
  • Não tenha medo de experimentar o novo e o diferente. Você pode se surpreender.

 

Pão com rama de cenoura

A rama da cenoura tem vitamina A e C, explica a nutricionista Marina Scorsin.

O guia Sabor Sem Desperdício, que faz parte do programa Mesa Brasil, do SESC, traz diversas receitas para o aproveitamento integral de alimentos, uma delas, inclusive, com a rama de cenoura citada pela Marina

Ingredientes: 

  • 2 tabletes de fermento biológico (fresco)
  • ½ xícara (chá) de açúcar
  • 1 ½ xícara (chá) de leite morno
  • 1 xícara (chá) de rama de cenoura 
  • 1 cenoura ralada 
  • 1 ovo 
  • ½ xícara (chá) de óleo
  • 1 colher (chá) de sal
  • 500 g de farinha de trigo

Modo de preparo: 

Coloque os ingredientes líquidos, o fermento, o açúcar, o óleo e o sal no liquidificador e bata. Em seguida, coloque em uma tigela a farinha de trigo, a cenoura ralada, as ramas e a mistura batida. Misture bem com uma colher até formar uma massa lisa. Unte uma fôrma de bolo inglês com óleo ou margarina e farinha, despeje a massa e deixe crescer (cerca de 30 minutos em dias quentes e 1 hora em dias frios). Leve para assar em forno a 170 °C por 35 minutos.


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