Foto da palestra da Isa Minatel em Guarapuava

Batemos um papo com a psicopedagoga especialista em Montessori, em programação neurolinguística (PNL), autora e palestrante Isa Minatel, que compartilhou sua visão sobre educação dos filhos

Geração Raiz x Geração Nutella

Mais Saúde: Nas redes sociais sempre vemos muitos memes, que às vezes são levados a sério por muitas pessoas. Sobre a questão da geração raiz vs. geração nutella. Alguns usuários falam sobre as crianças de hoje em dia, que são mais frouxas e mimadas, por exemplo,  que seria a geração nutella. Como você enxerga essa discussão?

Isa Minatel: Eu acho que assim, a brincadeira em si eu gosto. Tem que ter leveza, tem que se divertir, tem que brincar. Mas também acho que ela revela um viés que a gente está vivendo hoje de dualidade, que leva a gente para extremos. E a minha proposta é de equilíbrio.

Então, eu acho que quando a gente tem o raiz que era aquele que o pai jogava no rio pra aprender a nadar. E na outra ponta temos o Nutella, que não faz a aulinha de natação, porque a aguinha estava fria. Entre os extremos a gente encontra um ponto de equilíbrio. Então acho que enquanto a gente usa a brincadeira para a brincadeira é OK.

Agora a gente tem que tomar cuidado e fazer uma análise se o nosso mindset não está assim. Porque aí a gente perde muito. Eu acho que tem coisa boa  nos dois modos. Se a gente pegar o que tem de bom no raiz, que é a firmeza, com o que tem de bom no Nutella, a ternura, a gentileza; conseguimos ter o melhor das duas coisas.

Essa é a minha proposta, da disciplina positiva, ou seja, a ideia de educar com mais amor e menos trauma.

Isa Minatel responde se a criação das crianças era melhor antigamente

Mais Saúde: E até falando mesmo nisso. Muitas pessoas costumam afirmar que a criação era melhor antigamente, que havia mais respeito, etc. Você vê que tem uma maneira de criação melhor?

Isa Minatel: Antes a gente tinha uma estrutura de sociedade vertical. Então a criança nascia e ela entrava num mundo de estrutura verticalizada em que um se virava pro outro. Ela acabava cedendo, por mais forte que fosse o temperamento dela, a se curvar para o adulto. Então esse respeito por medo, por dependência, por quase que coação.

A criança entra nesse mundo agora, nessa sociedade atual e ela não vê estrutura de obediência. E aí, eu espero que ela obedeça, mas ela não entende nada. “Por que esperam isso de mim? Se ninguém obedece ninguém”. Então ela também não obedece. Então temos um olhar que a gente, acostumado com a criança que se curvava, enxerga a autonomia da criança como desrespeito.

Em contrapartida, existe o desrespeito mesmo. Então agora eu preciso separar o joio do trigo. O que é desrespeito percebido por causa dos meus parâmetros anteriores. E o que desrespeito de fato que eu preciso orientar.

É um grande desafio separar isso, porque as linhas, às vezes, são muito tênues. Por isso que eu digo, que é preciso estudar para ser pai e mãe. Porque não é simples.

Para educar é preciso olhar para dentro

Mais Saúde: A educação seria então buscar um equilíbrio deles. É algo bem complexo…

Isa Minatel: É complexo. Agora você sabe como fica mais complexo esse processo ainda? Porque a gente se distanciou dos nossos valores. Se a gente tiver que dizer de pronto quais são os cinco valores principais na sua vida, às vezes a gente não consegue. E esses valores, que são os principais para nós, são muito determinantes para o que a gente entende por respeito.

E como a gente é muito convidado o tempo inteiro pra olhar pra fora e não pra dentro, a gente está se perdendo. As redes sociais chamam o tempo inteiro. Os aplicativos. É toda hora uma coisa interrompendo. Então, a gente precisa tomar cuidado. Porque a gente está sendo absorvido. Nossa atenção virou dinheiro: quanto tempo a gente fica colado no aplicativo, quanto tempo a gente fica rolando alguma coisa no feed.

E aí tem uma reflexão que eu gosto muito, que é quando você não paga pra usar alguma coisa. Você não paga pra usar Instagram, Tik Tok, YouTube,  se você não paga pra usar é porque o produto é você. Eu não estou usando, eu estou sendo usado.

É correto usar palmadas para educar?

Mais Saúde: Um assunto muito polêmico são as palmadas para educar, que muita gente parece defender na internet. Qual sua visão a respeito?

Isa Minatel: A palmada educa. Se educar é fazer o que eu quero que você faça, palmada educa.  Você vai conseguir que a criança faça o que você quer que ela faça. Ou por medo da palmada ou pela dor. Enfim.

Mas o problema é o que ela faz além disso. As marcas que ela deixa, a  distância que ela cria entre quem bate e quem apanha. A quebra da confiança, a quebra do vínculo, às vezes a humilhação, as crenças limitantes sobre a própria identidade:  “Eu não sou uma pessoa boa”, “eu não sou suficiente”, “eu não sou capaz”. Você joga alguém pra vida obediente. Mas cheio de problema.

Agora, se a gente for entrar também no mérito da educação, por muito tempo eu achava que o processo de educar era levar uma criança a fazer o certo. E quando ela fazia o que eu achava certo eu: “parabéns, muito bem”. Quando ela não fazia o que eu achava que era certo então: “não gostei, não é assim, mamãe fica triste, não é legal”. Quando eu descobri Montessori, eu descobri que esse processo que eu descrevi aqui é muito mais próximo de adestramento do que de educação. E é o que a palmada faz.

“E eu descobri que educar era uma coisa muito diferente, tinha que tocar a pessoa” – Isa Minatel

Educação é outra coisa. Sou muito grata e estou muito grata ainda porque descobri isso quando meu filho ainda era muito pequeno, com um ano eu comecei a ler Montessori e descobri essas coisas. Ele tinha um ano, então deu muito tempo ainda de viver esse processo com ele. E eu descobri que educar era uma coisa muito diferente, tinha que tocar a pessoa. Que ela tivesse dois, três anos, ela devia se sentir tocada. Existia algo maior pelo qual era adequado fazer assim e não adequado fazer assado. Era interessante ir por aqui é perigoso ir por lá. E aí, de tal forma que ela se sentisse tocada no cognitivo ou no emocional. Que ela chegasse a conclusão disso do que era bom, do que era certo, do que era agradável, do que era positivo pra ela funcionar inclusive sem mim. Aí ela está educada.

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