Ponto crucial na vida acadêmica, o trabalho de conclusão de curso é fator de estresse para muitos estudantes. Psicólogo ensina como minimizar os efeitos

A tela branca fica te encarando. Quase como um inimigo pronto para te derrubar. O cursor do texto não só pisca, ele treme. É um terremoto. Te lembra o ponteiro do relógio. Tic. Tac. O tempo está passando. A corrida para terminar o trabalho parece cada vez mais distante de acabar. Tudo isso se reflete no seu corpo. Dor de cabeça, inquietação, nervosismo, enfim, o estresse bate à porta e não tem como não o atender.

Esse cenário foi o que o estudante de publicidade Raul Neto enfrentou em boa parte do seu último ano de faculdade. “Eu escrevia, escrevia, escrevia, mas o TCC não ia para frente, parecia que não fluía. E isso estava me fazendo muito mal”, relata.

A sensação, inclusive, começou a surtir efeitos negativos em outros aspectos da vida, como o estágio, por exemplo, uma atividade atrapalhava a outra e ele começou a sentir que não conseguia terminar nada. Um ciclo vicioso, como ele mesmo cita, em que a falta de resultados acabava criando mais estresse.

Com calendário não possuindo a mesma maleabilidade do começo do ano letivo, a corda acabou estourando. “Chegou uma hora que eu percebi que não conseguia mais lidar com tudo isso, que não valia a pena mais lutar e pensei ‘eu termino ano que vem, nem que me gere problemas’, porque eu não aguentava mais”, confessa o estudante.

O psicólogo clínico e professor de ensino superior, Douglas Dal Molin (CRP 08/24315), explica que o caso de Raul não é isolado, já que os diversos fatores que compõe o processo de realização de uma pesquisa científica podem ser, de fato, motivadores de dificuldades para quem está no processo, o que muitas vezes se traduz em sintomas de estresse.

Diversas etapas durante a realização da pesquisa podem ser estressantes para os alunos

Várias consequências

Entre os sinais mais comuns de serem percebidos estão aqueles relacionados à ansiedade, explica Douglas. Na lista aparecem o batimento cardíaco acelerado, relatado por alguns até como dor no peito, sudorese, hipersonia (dormir muito) ou insônia (dormir pouco), choro, comer muito ou deixar de comer, dificuldade em realizar tarefas, paralisação, entre outros. Em alguns casos, as consequências podem ser um pouco mais graves. “A ansiedade não é o único problema que pode aparecer. Depressão e transtorno do pânico são exemplos”, revela o psicólogo.

Outra ressalva que o especialista faz diz respeito a maneira como esse fato se manifesta no corpo de cada um. “A minha ansiedade é diferente da sua. Nós não devemos olhar apenas para o sintoma, mas para a causa dele, com o que ele se relaciona. Apenas assim é possível entender o que a pessoa está passando”, cita.

Pandemia como agravante

Se todos os aspectos que envolvem o desenvolvimento de um relatório final de pesquisa já bastam para gerar os problemas na saúde mental dos estudantes, com o cenário que se desenhou no último ano, a situação pode ter ficado ainda mais latente.

Para psicólogo e professor, o fato dos últimos meses terem sido diferentes pode ter trazido, ou evidenciado, crises nas diversas etapas de trabalho, como por exemplo conversar com outras pessoas, se organizar para estudar, manter os afazeres em dia, encontrar o material correto no lugar certo e em montar um cronograma.

Raul também acredita que o seu trabalho não foi como desejava por conta dessas questões de força maior. Não poder utilizar a biblioteca da universidade e ter que passar o dia todo trabalhando e estudando em casa foram determinantes para o atrapalhar na empreitada. “É muito difícil me concentrar em casa. O computador é o mesmo lugar que eu trabalho, estudo, jogo e passo meu tempo livre. Eu sentava e não parecia que estava ali para fazer o TCC, eu sentia vontade de fazer qualquer outra coisa”, desabafa.

Segundo o psicólogo e professor de Ensino Superior Douglas Dal Molin, algumas coisas podem facilitar o controle da ansiedade: fazer cronograma, organizar as pequenas etapas que precisam ser alcançadas antes daquela mais complexa e fazer atividades físicas.

As incertezas quanto ao que vai acontecer também são questões que se relacionam diretamente com a incapacidade de entregar o resultado desejado. “Não conseguir se comportar no presente, pensando e se preocupando com o futuro, ou ainda dificultando o entendimento de que aquilo que foge ao seu controle e que não é seu, não é algo que valha seu esforço, pode ter sido potencializado pela pandemia”, argumenta Douglas.

Como controlar a ansiedade

De acordo com o profissional de saúde mental, existem algumas coisas que a pessoa pode fazer diante disso, tais quais exercitar a respiração (de forma guiada ou não), fazer cronograma, organizar as pequenas etapas que precisam ser alcançadas antes daquela mais complexa e fazer atividades físicas. Outra coisa que pode ajudar é criar recompensas prazerosas às pequenas conquistas, sem esquecer das grandes e que estão a médio ou longo prazo. Por fim, ele lembra que buscar auxílio na psicoterapia pode ser útil.

 

Se organizar e deixar os comentários negativos de lado são importantes para realizar o trabalho final.

Pensar etapa a etapa e não levar em conta os comentários negativos das pessoas que já passaram pela mesma situação também são cruciais. “O aluno nem entrou no curso e já escuta histórias sobre como a pesquisa de TCC, e outros, são difíceis e vão consumi-lo. Isso vem dos veteranos, que ouviram de quem veio antes deles e assim por diante. É uma bola de neve que leva o senso comum a tratar a pesquisa com medo, mesmo antes de fazer”, finaliza.


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Essa matéria surgiu de uma sugestão de pauta em nosso Instagram @maissauderevistapr, quem enviou foi o pessoal da S.O.S_TCC. Tem algum assunto que quer ver por aqui? Entre em contato e nos avise. Você pode conversar com a gente pelas redes sociais ou mandar um e-mail para maissauderedacao@gmail.com.

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