Professores estão entre o grupo de profissionais que mais sofrem de problemas de saúde mental no ambiente de trabalho, durante a pandemia o quadro foi ainda pior

Um certo nível de desgaste emocional é comum em qualquer trabalho, mas algumas áreas de atuação tendem a apresentar esse problema de maneira mais crítica. A carreira de educador, por exemplo, é uma delas.

Uma pesquisa realizada em 2019 pela Associação Nova Escola, ouviu cerca de 5000 profissionais da educação de todo o Brasil. Do total de entrevistados, 60% relataram sofrer com ansiedade, estresse e dores de cabeça. Entre os que dizem ter esses sintomas, 9 a cada 10 acreditam que o trabalho os intensifica.

Se isso já se apresentava como problema antes, no último ano pode estar sendo ainda mais grave, já que novos elementos foram adicionados à prática de lecionar por conta da pandemia. Primeiro veio o modelo de educação remota, depois, as incertezas relacionadas à volta ao ensino presencial, mesmo sem uma vacinação ampla e controle da pandemia.

Ensinar pela internet foi difícil no começo

Ensino remoto foi motivo de desgaste para todos os lados envolvidos.

A professora Liliane Seubert Cacilho trabalha em uma escola particular da cidade, com uma turma do ensino fundamental. Ela explica que a principal dificuldade quando começaram as classes on-line foi a falta de tempo. “Não tinha hora para trabalhar. Eu começava de manhã e ia até a noite respondendo aos pais, arquivando atividades, preparando slides para o dia seguinte”, lembra.

Parte do desgaste vinha da frustração de depender dos responsáveis e dos alunos para esse novo modo funcionar. Fato esse que fazia a tensão aumentar durante e após as aulas. Porém, com o tempo, as coisas foram se ajeitando.

Outra profissional da educação que compartilhou essas experiências foi Nicéia Martim. “No início toda mudança gera certa insegurança e, pode se dizer, até mesmo estresse”, comenta. Porém, ela enxerga que, apesar das perdas do ponto de vista social, com o convívio tendo que diminuir, por conta das medidas sanitárias, o novo modelo de educação ainda pode ser útil, principalmente por usar mais recursos tecnológicos.

Apesar de que para alguns educadores o ensino remoto ter sido incorporado com mais facilidade, muito pelo fato de já possuírem contato maior com tecnologias da informação e comunicação, para outra parcela isso também foi empecilho. Segundo a psicóloga Jéssica Maschio Martini (CRP 08/20383), muito dos efeitos negativos nas emoções foram em decorrência do pouco contato com um mundo digital, por parte dos professores, ao mesmo tempo em que uma parcela dos alunos não tinha acesso à tecnologia, dificultando esse método de ensino.

Como recomendação para diminuir o desgaste desse cenário, alguns fatores para melhorar a qualidade de vida podem ser considerados. “É importante que estabeleçam prioridades, organizando uma rotina de maneira que sempre haja tempo para uma atividade voltada para seu bem-estar e lazer, praticando exercícios físicos ou cultivando novos hobbies”, exemplifica a psicóloga.

Pandemia ainda não acabou

A vacina para o novo coronavírus ainda não está disponível para toda a população, entretanto muitas escolas pensam em voltar a funcionar presencialmente, ou, até mesmo, já regressaram.

Jéssica ressalta que esse fato também pode ser motivo para problemas emocionais, já que mais uma vez medo e incerteza tomam conta do ambiente. “Os próprios professores encontram-se sem as respostas certas, lidando com um cenário inédito, tendo que modificar a dinâmica de algumas aulas, com medo de não estarem conseguindo ensinar como deveriam seus alunos”, cita.

Escolas planejam retorno mesmo sem a vacinação ampla de professores e alunos

Esse é o caso da escola em que Liliane trabalha, que desde janeiro retomou as atividades do ano letivo de 2020, antes de começarem o calendário seguinte. Ela relata que não se sente totalmente segura com o fato de lecionar presencialmente novamente, pelo menos não sem a vacina. Ela lembra que professores são responsáveis por vidas dentro da sala de aula, e que isso pode ser estressante. Mas acredita que o trabalho do professor é essencial para a formação dos pequenos cidadãos, por isso, conta com apoio da família.

Nesse sentido, buscar ajuda é fundamental para que os efeitos negativos gerados por essas questões não se tornem um problema ainda mais grave. Por isso, a principal recomendação para quem esteja passando por um desses momentos de dificuldade é buscar apoio. “Não guarde para si os seus sentimentos, frustrações e preocupações, compartilhe, externalize e se necessário busque uma intervenção psicológica para uma melhor compreensão de si e por uma melhora na sua qualidade de vida”, esclarece Jéssica.

Ninguém é um robô

A psicóloga Jéssica Maschio Martini, explica que é importante compreender os próprios sentimentos e entender que não se deve apenas continuar executando suas tarefas a todo momento. É necessário analisar quais são os limites e o quanto o trabalho está interferindo na saúde mental, o que gera autoconhecimento. Como nem sempre isso é algo fácil de se fazer por conta própria, um profissional da área da saúde mental pode ser consultado, para conduzir, instruir e auxiliar o processo. “Ninguém deve passar por isso sozinho, buscar ajuda é fundamental”, ressalta.

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