Essa possivelmente é uma pergunta que nos fazemos várias vezes. Mas, precisamos entender a nossa realidade e aonde estamos inseridos. A psicóloga Tania da Silva (CRP 08/05291) falou um pouco mais sobre o assunto

“[…] Sabe esses dias em que horas dizem nada e você nem troca o pijama preferia estar na cama…um dia a monotonia tomou conta de mim …sentado no meu quarto, o tempo voa, lá fora a vida passa e eu aqui à toa […]”.  Neste trecho da música Tédio, o grupo Biquini Cavadão, canta as angustias e duvidas de alguém em relação a sua improdutividade.  Fazem referência à busca dramática desta pessoa em preencher seu tempo, onde e nem mesmo ler um jornal ou ver TV conseguem satisfazer seus anseios.

Em Tempos Modernos, Chaplin é o operario Carlitos.

A forma de vida em que estamos inseridos, na qual produzir é a palavra de ordem, nos colocou como verdadeiros operários em uma linha de produção eterna, sempre afoitos esperando que uma peça venha na esteira da fábrica para que possamos fazer nossa parte neste processo frenético. Lembrem da cena de Charles Chaplin, no filme “Tempos modernos”, quando ele enlouquece diante da cobrança insana de ter que apertar parafusos sem parar.

O excesso de trabalho foi uma criação alicerçada nos moldes de produção capitalista, em que estar parado é não ter serventia, ser inútil e estar a margem. Não é à toa que a palavra aposentado vem do termo “aposento”, isto é, aquele que deve ocupar um lugar de descanso, de inutilidade. Tão pejorativo ficou este termo, que só o fato de pensar em se aposentar gera temor em muitas pessoas, motivo de piada e desprezo pela sociedade em geral.

Aquela cena do pai que chegava na mesa do café da manhã e só dava uma mordida no pão e saia apressado (propaganda clássica de margarina), era o exemplo a ser copiado. Funcionário padrão, um homem atarefado e cheio de compromissos, não podia perder tempo tomando café com a família.

O mundo atual nos inundou de mídias dos mais diversos tipos e tamanhos: Tik Tok, Facebook, Instagram, Twitter e outros, nos impondo a necessidade de estar atualizando momentaneamente cada uma delas, preenchendo com fotos, informações e notícias falsas. Ou seja, temos que estar produzindo freneticamente nestas redes sociais, mostrando o quanto estamos ligados, conectados, por dentro do que acontece, independente se isso tem importância para alguém. Estar conectado, “dar o like” por primeiro, “curtir” de imediato a postagem dá esse status de estar sempre pronto, de não perder nada, produzir a resposta que tanto gera prazer.

Produzir sem parar, estar conectado intensivamente com o trabalho, pode trazer graves consequências no campo físico e emocional. Pessoas atarefadas se alimentam mal (quando se alimentam), tem qualidade de sono prejudicada, desenvolvem patologias de ordem gástrica e cardíaca. Emocionalmente, o excesso de trabalho nos afasta de amigos e familiares, torna nossas relações afetivas mais difíceis, gera ansiedade e angustia.  

A recente pandemia veio trazer um peso maior naqueles indivíduos superprodutivos, pois limitou horários, locais e diversas atividades. De repente, tivemos que suspender nossas atividades corriqueiras, ou diminuir este ritmo pois o momento exigia tal sacrifício. Sacrifício quase que doentio para estes que faziam um dia de 24 horas ser pequeno para a quantidade de tarefas que tinham a cumprir.

Porém, também houve uma questão de reflexão na pandemia, pois muitos de nós tivemos tempo para “parar” e nesta estacionada obrigatória, avaliar o quanto este excesso de trabalho estava tomando nosso tempo, complicando nossas relações, subtraindo nossas horas de lazer, de saúde, enfim nossa qualidade de vida.

Essa “improdutividade” acabou gerando muita angustia nas pessoas, mexendo com sua autoestima e trazendo consequências físicas e psicológicas. Porém, muitos conseguiram driblar esta situação e reverter o quadro de uma maneira até criativa, isto é, trataram de ocupar este tempo dito ocioso em atividades que lhes dessem prazer e diversão. Desta maneira, a produtividade continuava, só que de uma forma menos estressante.

Sendo assim, podemos encarar diversas atividades, como produtivas, sem obrigatoriamente gerarem lucro, ou terem hora exata para começar ou acabar por exemplo.

“Organizar uma gaveta, fazer a poda de uma planta, lavar um carro ou montar uma miniatura com os filhos pode ser vista como produção. Assistir a uma serie que estamos protelando há meses, tentar fazer aquela receita que estava lá no caderno da vovó, podem nos saciar esta sede de fazer algo”.

Outra alternativa é determinar metas a atingir, metas que estejam dentro de nossas realidades de tempo e necessidade. Determinar horários para começar algo e acabar, diminuir as cobranças excessivas sobre nós mesmos, verificar se tal tarefa, tal trabalho

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