Dizer que homem não chora é coisa do passado. Mas mesmo hoje, onde os homens estão mais conectados à moda, estética, bem-estar e qualidade de vida, em alguns momentos a saúde fica de fora. Por que isso ainda acontece, se manter o corpo e a mente em dia é um ideal que atinge tanto os homens quanto as mulheres?

De acordo com a psicóloga Tania da Silva, nossa saúde é antes de tudo, primordial para termos qualidade de vida em uma vida mais longa possível, e isso vale para ambos os sexos. “Acredito que esse é o desejo da grande maioria das pessoas. Porém, muitas vezes não pagamos o preço em nos cuidarmos ou nos autossabotamos de muitas formas. Todos sabemos dos cuidados necessários para se ter qualidade de vida: fazer exercícios físicos, ter uma alimentação saudável e cuidarmos de nossa psique”, afirma.

 

Onde está a diferença?

Para a profissional, a diferenciação começa no momento em que a sociedade aplica modelos pré-concebidos e estereotipados do que é “ser homem” e “ser mulher”. “O conceito de masculinidade tradicional é o homem viril, machista, que deve apresentar distanciamento emocional, agressividade, competência, fortaleza, racional, ter uma sexualidade sem limites e comportamento de risco. O machismo é definido como um conjunto de ideias e valores desiguais para o sexo masculino e feminino, garantindo a percepção da superioridade do homem em relação à mulher. Inclui-se aí, a negação de qualquer característica ditas femininas, que lhe possam ser atribuídas, como ternura, fragilidade, afetividade e sexualidade contida das mulheres”, revela.

“Para o homem não é permitido às expressões dos sentimentos como amor, ternura, dor, fidelidade, etc. O aspecto cultural é apreendido e repassado para as demais gerações. O indivíduo não nasce com a sua cultura, ele a apreende através do comportamento humano. Assim, define-se cultura machista como as concepções apreendidas no processo de aculturação, sendo as mulheres também responsáveis por mantê-la, pois reforçam os valores do machismo através da reprodução dos padrões”, complementa Tania.

Apesar de tudo, segundo a psicóloga, estamos em um processo de mudança nesses estereótipos. “Uma evolução se iniciou a partir da mudança provocada pelo movimento das mulheres, o homem também tem questionado essa cultura patriarcal e repensado seu papel em nossa sociedade. O novo modelo tem se preocupado em ser mais pluralista, podendo abarcar muitas formas de ser no mundo, nos papéis de pai, marido, amante, trabalhador e cidadão”, explica.

De acordo com Tania, que também é especialista em terapia sistêmica de famílias e casais, os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino. “A doença é considerada como um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica.  Nessa cultura, os homens são portadores de menos necessidades em saúde do que as mulheres, expressam exemplarmente na figura do chefe de família provedor, dedicado ao trabalho e que raramente adoece, o que os pode levar a negligência de sua saúde”, salienta.

“O homem julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que ele cuide menos de sua saúde e assim, se tornam mais vulneráveis às doenças.  Pesquisas apontam que os homens morrem mais precocemente por doenças graves e crônicas, por não ter uma prática de cuidado consigo mesmo”, diz a psicóloga.

Conforme sua prática clínica, Tania observa que no aspecto emocional, ocorreram pequenas mudanças, já que agora, os homens buscam mais ajuda para si e para a família. “Estamos num período de transição e questionamentos desse padrão pré-estabelecido em nossa sociedade, e assim, o homem está conseguindo permitir-se a entrar mais em contato consigo mesmo e reconhecer suas dificuldades, limitações e sofrimentos, buscando dessa forma, ajuda profissional”, opina.

 

Como agir?

Se você tem um parente próximo, ou conhece alguém que tem dificuldades quando a questão é pedir ajuda, saiba que o caminho ainda pode ser longo. “Antes de tudo, precisamos que as escolas falem isso desde quando essas gerações ainda sejam crianças, questionar os papéis existentes, questionar alguns dizeres populares, onde só reforçam o estigma, como: quem procura acha doença, então é melhor nem ir ao médico! Ser forte, não significa não precisar de profissionais da saúde, ao contrário, é para continuar tendo uma boa saúde que precisamos buscar a prevenção”, explica a profissional.

O homem precisa aprender cuidar de si, isso significa amor próprio, ter uma boa autoestima. Isso precisa fazer parte do repertório masculino, como um emponderamento dos mesmos. “Deixar na mão de terceiros sua saúde é uma displicência consigo próprio. Reconhecer-se como um ser humano com necessidades, não é um super-herói e nem um super- fracassado. Todos acertamos e erramos e estamos aqui para viver um dia de cada vez, com serenidade e tranquilidade dentro do que nos é possível”, salienta Tania.

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