Os índices cada vez mais altos refletem os sintomas de uma sociedade psicologicamente doente

Segundo o ministério da Saúde os números de mortes por suicídio aumentaram em 12% entre 2011 e 2015 no Brasil. É considerada a quarta maior causa de mortes entre jovens de 15 à 25 anos. Muitos são os motivos que levam homens e mulheres a tirarem suas próprias vidas. Por isso, esse assunto a cada dia ganha mais espaço na sociedade, e levam a grandes reflexões sobre como debater e prevenir este problema de saúde pública.

Segundo a Psicóloga Elaine Secchi Biancardi, são diversas as causas que influenciam o ato do suicídio, nos transtornos de humor, especialmente nos casos de depressão, o mais grave é o pensamento e o ato suicida. “Para se caracterizar a depressão é necessário intensidade, frequência e duração de alguns comportamentos específicos, que podem ser a melancolia, a reclamação, o choro, a apatia, tristeza, falta de vontade e desejo, abandono de atividades, falta de apetite, dificuldades para dormir, dificuldades para sair da cama, de casa, de se relacionar, é possível que a pessoa tenha perdido o prazer pela vida, que ela não se reconheça mais da mesma forma que se reconhecia antes”. De acordo com a psicóloga, é neste momento que se inicia o risco do pensamento suicida com a intenção de cessar com a angústia, dor e sofrimento.

Os porquês são vários e dependem exclusivamente de cada pessoa, o pensamento suicida tem diversas causas. O suicídio, muitas vezes, não é entendido pelo sujeito, pela família e pela comunidade. Há casos, por exemplo, de pessoas que não apresentam características de um transtorno de humor, ou mesmo da depressão, mas cometem tentativas de suicídio. Elaine destaca, que são sintomas de uma sociedade estressada e fragilizada. “É comum encontrarmos jovens e adolescentes que nunca apresentaram um episódio ou mesmo um quadro de transtorno de humor, e que fazem a tentativa ou a retirada da própria vida, então é fundamental repensar tal fenômeno,  é preciso e necessário uma análise distinta, avaliar e compreender como nossos jovens e adolescentes estão enfrentando seus problemas, suas frustrações e sofrimentos, se ele tem recursos psicológicos e emocionais suficientes para enfrentarem o sofrimento e não fugir dele e tentarem o suicídio”, afirma.

Outra questão recorrente são as mortes de profissionais, empresários, empreendedores considerados de sucesso, que por um problema de percurso, não dão conta de manter seus negócios ou honrar com seus compromissos. “É uma análise que precisa ser feita, será que o excesso de exigências e cobranças consigo mesmo não ultrapassam os limites do equilíbrio e, por isso, acabam não dando conta e também acabam tirando sua própria vida. É fundamental repensarmos como estamos acompanhando e desenvolvendo o excesso de cobrança ou mesmos a busca pela perfeição de nossas crianças, nossos jovens que se tornam tais adultos”, relata a psicóloga.

É comum ouvir “quero acabar com o sofrimento”, na tentativa de fugir do sentimento desconfortável de vazio, tristeza, desilusão, e para interromper esses sentimentos e pensamentos que atrapalham, a pessoa opta pelo término da vida. Elas podem ser consideradas pessoas com “pensamentos suicidas”. Elaine alerta que nem todos podem ajudar uma pessoa que quer cometer o suicídio. Porém, é preciso ter cuidado, pois, na maioria das vezes, pessoas despreparadas não conseguem lidar com neutralidade ao processo. “Estão carregados de sentimentos como dó, piedade, culpa, raiva, amor, e por vezes podem acabar comprometendo o quadro, mesmo com o desejo de ajudar, auxiliar essa pessoa que está com o sofrimento, podem acabar prejudicando-a, o profissional habilitado, o psicólogo tem uma relação terapêutica, de análise, seus sentimentos são colocados entre parênteses, para que não comprometa a psicoterapia e seja possível fazer com que o paciente saia do quadro atual”.

No dia 27 de agosto é comemorado o dia do Psicólogo. O profissional da psicologia estuda o comportamento e a mente humana, dessa forma, cuida do bem-estar mental da sociedade. O psicólogo pode atuar em diversas áreas, como Clínicas de Psicologia, Escolas Públicas e Particulares, Hospitais, Empresas, Consultórios (atendimento particular), Clubes Esportivos e diversos outros.

Alguns sinais são importantes para saber se você precisa consultar um psicólogo, são eles: tristeza e desânimo constantes, apatia, dificuldade de dormir, falta de apetite, perda ou ganho de peso, dificuldade de relacionamento, sentimentos de angústia, raiva, quando as dores do passado se tornam recorrentes, quando não conseguem enxergar ou mesmo ter perspectiva de futuro, descontrole emocional, crises existenciais, sentimento de raiva e estresse, pensamentos negativos, problemas para dormir e muitos outros. A ajuda do profissional da psicologia é fundamental para manter uma vida mais positiva, tranquila e saudável.

 

Como um psicólogo pode ajudar?

Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde, ter orientação de um membro do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), reduz em até 14% o risco de suicídio. Ou seja, buscar ajuda e ter um acompanhamento psicológico seguro é fundamental para o sujeito não chegar a cometer o suicídio. Para Elaine, o primeiro passo do processo é conhecer a pessoa que se apresenta. “Depois desenvolver repertório de enfrentamento, autoconhecimento e autocontrole para que seja possível analisar todas as variáveis que influenciam tal sentimento e o próprio pensamento em fazer a retirada da vida, e seja possível uma reengenharia para mudanças de vida, afinal é muito provável que a pessoa que deseja o suicídio, têm como objetivo cessar com o sofrimento”, destaca a psicóloga.

Quais são os tratamentos?

É essencial buscar a ajuda profissional, um psicólogo e um psiquiatra, que possam fazer as orientações adequadas, que não façam juízo de valor diante do paciente, mas que dê alternativas para o bem-estar psicológico da pessoa. O tratamento pode ser realizado de diversas formas, dependendo de uma observação complexa da saúde do paciente. “Dependendo do quadro, é necessário além da psicoterapia, o auxílio de um tratamento medicamentoso, com um médico, psiquiatra. É imprescindível o tratamento psicoterápico, o acompanhamento psicológico, que irá possibilitar as mudanças de comportamento, de sentimento, pensamento que irão favorecer para uma mudança de vida e melhora do quadro”, ressalta Elaine.

 

Um tabu social

O sigilo pelo qual os casos de suicídio ocorriam está mudando. Só nos últimos anos algumas ações como o setembro Amarelo estão sendo reconhecidas como uma forma saudável de discutir este tema polêmico, dando dicas e alertas para identificar um sujeito potencialmente suicida e como lidar com essa situação. O tabu tem sido quebrado para romper com o ciclo de mortes prematuras. “Temos uma sociedade cada vez mais desejosa, e atarefada, em busca de mais e mais reconhecimento, dinheiro, sucesso, temos mais doenças emocionais aparecendo, outros dados que devem ser repensados são porque temos um universo de jovens tentando ou mesmo cometendo suicídio, podemos repensar, como estão sendo seus processos de desenvolvimento, como estão sendo desenvolvidos repertórios de enfrentamentos de dificuldades, como estão aprendendo a lidar com as frustrações, angústias e tristezas”, enfatiza a psicóloga.

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