Saiba o que fazer, o que falar, quando a alegria de um familiar ou amigo se vai

 

Fala-se muito sobre a depressão ser o mal do século em que vivemos. E mesmo com tanta discussão, a doença ainda continua sendo uma incógnita em diversos fatores. É um fato comprovado que aproximadamente 15% da população mundial terá uma depressão forte em algum momento da vida. E dados ainda mais alarmantes da OMS (Organização Mundial da Saúde) nos dizem que a patologia será o problema de saúde mais comum do mundo em menos de 20 anos.

Mas afinal, o que pode levar uma pessoa à depressão? Essa questão é complexa e pode ser compreendida sob vários olhares. Segundo a psiquiatra Marine Pereira, histórico familiar da doença, experiências vividas na infância, traumas, uma vida desgastada e estressante, perda de um emprego, perda de um ente querido, entre outros, são fatores que podem ter grande influência para o aparecimento da doença. Mas, especialistas afirmam que não há como determinar com certeza que pessoas que passaram por tais coisas apresentarão sintomas de depressão. Há características específicas de cada ser humano que fazem com que cada um reaja de uma forma para as mesmas experiências.

As consequências da depressão são muito abrangentes e podem ser fatais.  A doença é extremamente perigosa se não tratada, e em muitos casos leva ao suicídio. Isso nos coloca em uma posição de necessidade de agir com extremo cuidado com seus portadores, sempre se certificando de dizer e fazer as coisas certas para que o quadro depressivo não piore. O tratamento deve ser feito por profissionais capacitados, como psiquiatras e psicólogos, mas é importante que amigos e familiares de uma pessoa depressiva colaborem de forma adequada para a sua recuperação.

Primeiro é preciso entender que depressão é coisa séria e não deve ser confundida com tristeza momentânea, preguiça, ou falta de vontade. De acordo com a psiquiatra, o depressivo perde o sentido e o prazer de fazer o que gosta, se sente cansado o tempo todo e não se sente motivado à levantar da cama para trabalhar e nem para sair com os amigos. Essa falta de interesse em tudo à sua volta é recorrente, não passa de um dia para o outro. Portanto, amigos e familiares não devem em momento algum subestimar os sintomas de um depressivo. “É importante salientar que a pessoa não escolheu ficar deprimida e nem está deprimida porque quer. A depressão é uma doença, precisa de tratamento e precisa do apoio da família”, explica a médica.

Outro fator importante ao lidar com um depressivo é cuidar o que se diz a ele. Nenhum depressivo gosta de ouvir as famosas frases “você tem que levantar, você tem que se ajudar, tem que fazer um esforço, tem que voltar a fazer as coisas.” O problema desses conselhos é que boa parte da depressão se resume na dificuldade de seguir o cotidiano que a pessoa um dia seguiu. Ela simplesmente não consegue. Portanto, é preciso que o amigo ou familiar a ajude, mas de maneira adequada do que apenas dizer palavras que não irão fazer sentido para ela.

Segundo Marine, é necessário dar um tempo para a pessoa, não ficar perguntando o que ela sente, mas deixar claro que ela pode contar com você quando estiver com vontade de conversar. Outro aspecto importante é incentivar seu tratamento, pois na maioria das vezes a pessoa com depressão não tem força de vontade de se tratar. Acompanhar o depressivo quando ele for ao psiquiatra, conferir se ele está tomando a medicação direito, enfim estar sempre ao lado da pessoa apoiando-a, pode ser fundamental para a melhora de seu quadro.

Lidar com uma pessoa depressiva pode exigir bastante de seus familiares e amigos, e às vezes pode até ser chato e desgastante. Mas não se deve desistir tão fácil de alguém que se ama. É essencial ter sabedoria e toda a cautela do mundo para não acabar machucando alguém que já está machucado o suficiente.

 

Palavras de quem já sentiu

Daniela Santos, de 24 anos, teve uma forte depressão há 2 anos atrás, e continua em tratamento. Segundo ela, o estopim do aparecimento da doença foi a decepção que teve em um relacionamento amoroso que durou 4 anos, mas aos poucos foi descobrindo que seu problema já havia começado antes disso. “Antes mesmo do término do meu namoro, eu já tinha crises de choro, crises de humor. Já sofria com uma série de coisas, principalmente com a responsabilidade de cumprir tudo o que meus pais despejavam sobre mim. Depois veio o fim do namoro, a decepção, e com ele a mudança drástica de rotina, pois eu morava com meu ex-namorado e quando o relacionamento acabou tive que voltar para a minha cidade natal, aí tudo se intensificou. Eu sentia uma tristeza inexplicável e profunda, uma apatia para tudo, uma vontade de me isolar do mundo. Só estava bem enquanto estava dormindo e não tinha que lidar com nada”, conta.

Daniela relata também como seus amigos e família a tratavam na fase inicial do seu tratamento e o quanto algumas coisas ditas a prejudicaram. “Alguns dos meus amigos não entendiam porque eu não queria sair de casa. Tive que ouvir coisas como ‘você não é mais a mesma pessoa que era antes, você já foi muito mais legal e divertida… Acho que essa foi a pior coisa que eu ouvi, me senti culpada. Outra coisa horrível que tive que ouvir de uma pessoa da minha própria família foi ‘pare de fazer drama, existem pessoas com problemas piores que os seus’. Acho que todos que já tenham passado por isso ouviram alguma coisa assim, como se estivesse naquela condição porque queria estar, como se a doença fosse frescura.”

Até a sua melhora, momento atual, Daniela disse que teve que lidar com muitos julgamentos e críticas, mas que também houve pessoas que souberam como ajudá-la. ”Tive muitos amigos que se afastaram de mim porque não souberam lidar com o que eu tinha. Mas também tive aqueles que ficaram do meu lado sem me julgar e tentando me animar sem forçar a barra. Minha mãe e meu pai passaram a ser mais compreensivos comigo, o que também ajudou bastante”. Depois que iniciou o tratamento médico, psicológico e psiquiátrico, o quadro de Daniela foi melhorando. Hoje, ela já se encontra mais estável, tem um novo emprego e uma nova rotina de vida que lhe agrada, porém seu tratamento com medicações e terapia continuam.

 

*O nome da entrevistada, Daniela Santos, é um nome fictício.

 

Por Camila Neumann

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